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"Seria pecado deixar músicas inacabadas de Michael Jackson nos arquivos", dizem advogados do rei do pop

  • AP/AEG/Kevin Mazur

    Michael Jackson em ensaio para seu retorno, no Staples Center de Los Angeles (23/06/2009)

Akon estava entre aqueles que ficaram surpresos ao ouvir que os herdeiros de Michael Jackson queriam explorar seus arquivos para um álbum póstumo, de material não lançado. O cantor senegalês-americano --que assina a colaboração com Jackson em "Hold My Hand" e é o primeiro single do novo "Michael"-- achou a ideia estranha. Agora ele a considera empolgante.
"Não achei, em nenhum momento, que alguma dessas canções seria lançada", diz Akon, que em 2008 compôs várias músicas com o rei do pop. "Michael Jackson era o tipo de pessoa que não queria que uma canção fosse lançada se não estivesse completamente finalizada, então fiquei surpreso por aquilo estar acontecendo". Mas ele está feliz a respeito e, aparentemente, o restante do mundo concorda.
"Michael" --que traz dez canções, muitas das que Jackson estava trabalhando quando morreu em 25 de junho de 2009, aos 50 anos-- estreou no terceiro lugar na parada Billboard 200, com vendas na primeira semana de 228 mil cópias. "Hold My Hand" chegou ao Top 40 em quase duas dúzias de países, sugerindo que a Jackson-mania ainda continua viva.
Isso não deve causar surpresa, é claro. Jackson vendeu mais de 750 milhões de álbuns em todo o mundo e "Thriller" (1982) é o álbum mais vendido de todos os tempos. Ele conquistou 15 prêmios Grammy, múltiplos recordes no "Livro Guinness dos Recordes" e ingressou duplamente no Salão da Fama do Rock and Roll, tanto com o Jackson 5 quanto como artista solo.

Lucros após a morte
Assim como Elvis Presley, John Lennon e outros antes dele, Jackson não perdeu status após a morte. Ele encabeçou o mais recente levantamento da revista "Forbes" de espólio de celebridades, com lucros de US$ 275 milhões de outubro de 2009 a setembro de 2010.
"Michael Jackson's This Is It" (2009), o documentário com imagens dos ensaios para os shows planejados de Jackson na Arena O2 em Londres, arrecadou US$ 261 milhões no ano passado, e sua trilha sonora estreou no 1º lugar da parada Billboard 200 e recebeu disco de platina.
Além de "Michael", o período de festas natalinas de 2010 também viu o lançamento do videogame "Michael Jackson: The Experience" e da coleção de DVDs "Michael Jackson's Vision", enquanto 2011 verá "Michael Jackson: The Immortal", um espetáculo do Cirque du Soleil que estreará em outubro e ficará em cartaz em Las Vegas.
"Há muito amor e muita paixão nesses projetos", diz John Branca, advogado de longa data de Jackson e co-executor, juntamente com John McClain, do espólio do artista. "A motivação principal disto não foi comercial, mas sim Michael e sua música", ele garante.
"John e eu conhecíamos Michael há muito, muito tempo", diz Branca. "O que queríamos fazer era homenageá-lo. Não se tratava de 'vamos ver se podemos encontrar algo medíocre nos arquivos para lançarmos e ganharmos algum dinheiro'. Não se trata disso. Realmente se baseia em nossa admiração e amor por Michael", conta.
O espólio, que não inclui formalmente a família Jackson, mas emprega alguns parentes como consultores, está olhando para o futuro. Um relançamento expandido do álbum "Off the Wall" (1979) está sendo considerado, assim como um documentário sobre a gravação do álbum.
Mais coletâneas e álbuns ao vivo estão no aguardo, assim como mais um álbum de material não lançado. Mas é improvável que qualquer futuro lançamento prove ser tão controverso e polarizador quanto "Michael". Algumas pessoas que trabalharam com Jackson criticaram o projeto, como o líder do Black Eyed Peas, Will.i.am, que disse que "eu não acho que ele [Jackson] ia querer lançar canções no estado em que estavam".
Outros pensam de modo diferente, particularmente aqueles envolvidos diretamente com Jackson. "Quem não ia querer dar continuidade a tamanho legado?", diz Teddy Riley, dos grupos Guy e Blackstreet, que trabalhou com Jackson no álbum "Dangerous" (1991) e produziu três faixas de "Michael". "Por que não continuar o legado de alguém e levá-lo ao próximo nível? Michael era um livro sem fim", ressalta.
"Seria pecado não lançar 'Michael'"
Akon sente que o álbum serve a um propósito que difere de um lançamento convencional. "É mais um caso onde podemos pegá-lo e dizer 'isto é algo que ele deixou para trás para apreciarmos'. O mundo sabe que não se trata de canções concluídas. Apesar de inacabadas, é uma grande oportunidade de vislumbrarmos algo que poderia ter sido incrível", defende.
Para Branca, é apenas uma música que as pessoas devem ouvir e que representa o Michael. "Vamos deixá-la guardada nos arquivos e não compartilhá-la com ninguém? Para mim a resposta é não. Nós sabíamos que a música precisava ser lançada. Seria um pecado deixá-la nos arquivos".
Jackson passou anos trabalhando em canções para aquele que seria seu primeiro álbum desde "Invincible" (2001). Algumas foram gravadas em Los Angeles, outras com os amigos Eddie e Frank Cascio em Bergen, Nova Jersey. A acústica e melódica "Much Too Soon" data das sessões de "Thriller", no início dos anos 80, enquanto Jackson e Lenny Kravitz trabalharam em "(I Can’t Make It) Another Day" durante as gravações de "Invincible".
Um demo da canção pop "(I Like) The Way You Love Me" apareceu em "Ultimate Collection" de Jackson, em 2004. Jackson acrescentou letras para "Behind the Mask" da Yellow Magic Orchestra, após ouvir a versão instrumental do grupo japonês, e "Best of Joy" era uma das várias canções que ele planejava continuar gravando em Londres, durante sua temporada de concertos na Arena O2.
As três faixas de Riley exigiram vários ajustes. Para "Hollywood Tonight", ao estilo "Billie Jean", ele escreveu uma ligação falada para ser "do tipo que ele (Jackson) faria em uma canção como 'Dangerous'". Em "Breaking News", Riley acrescentou todo um arranjo instrumental "para tornar tudo empolgante".
50 Cent era a escolha do próprio Jackson para participar da canção e ele foi orientado pelas próprias anotações de Jackson na partitura. "Ele veio, fez o que faz e a levou em outra direção", diz Riley, "e o resultado é incrível".
Akon, que colaborou na edição de 25º aniversário de "Thriller", já estava trabalhando em "Hold My Hand" quando Jackson o convidou para participar de seu novo álbum. A canção aparentemente se encaixava no tema sobre o qual Jackson queria cantar e Akon sugeriu que ele ficasse com ela. "A canção estava basicamente finalizada", lembra Akon, "mas a interpretação dele cria um ambiente diferente, uma outra vibração".
Cirque du Soleil de Jackson
Algumas das canções de "Michael", incluindo "Hold My Hand" e a colaboração com Kravitz, que conta com Dave Grohl do Foo Fighters na bateria, vazaram na internet nos últimos anos e a equipe de Jackson tem sido perseguida por alegações de que a voz dele não é original. Um imitador italiano de Jackson até mesmo disse para um tabloide britânico que ele gravou secretamente algumas das canções na Suíça.
Howard Weitzman, um advogado do espólio de Jackson, acabou escrevendo uma carta amplamente divulgada detalhando o processo de autenticação, que incluiu sessões de audição com produtores, engenheiros e músicos, assim como dois musicólogo forense. A Sony Music emitiu uma declaração dizendo que tinha "completa confiança de que os vocais no álbum são do próprio (Jackson)".
O mais incomum dos projetos póstumos de Jackson certamente é o show do Cirque du Soleil, que fará turnê em 2012 adentro. "Sempre achamos que era importante ter um show ao vivo que representasse Michael, sua música e o que ele teria feito", diz Branca. "Muitas pessoas ficaram decepcionadas por não terem visto o show 'This Is It'".
"Michael Jackson: The Immortal" está sendo escrito e dirigido por Jamie King, que trabalhou com Jackson, Madonna, Prince, Britney Spears e outros. Ele passou cinco meses desenvolvendo o conceito do show, com a escolha do elenco no final de 2010 e os ensaios marcados para o início de 2011.
O espetáculo multimídia de 90 minutos vai incorporar mais de 50 artistas e "grandes telas de vídeo" situadas ao redor do palco, exibindo "imagens icônicas de Michael, Michael Jackson na tela fazendo o que faz, como só ele pode fazer", diz King. "Vamos fazer algo grande, porque Michael teria feito de modo grandioso", diz King. "É uma grande celebração do homem, sua lenda e sua imortalidade. Apesar de ele não estar lá fisicamente, você o sentirá de modo espiritual e emocional, devido ao que você verá e ouvirá", garante.
O show provavelmente incorporará algumas das poesias de Jackson, assim como muitas de suas canções. Assim como nos shows anteriores do Cirque du Soleil dedicados aos Beatles e Elvis Presley, a música será remixada, combinada e reimaginada de formas diferentes. "Nós asseguraremos que teremos 'Beat It' (1982), 'Bad' (1987) e os grandes sucessos", diz King, "assim como forneceremos algumas surpresas, faixas inéditas que as pessoas ainda não ouviram".
Mas Branca reitera que qualquer material "novo" de Jackson utilizado no show --e em quaisquer futuros lançamentos-- estará sujeito aos mesmos testes de legitimidade utilizados no álbum "Michael". "Nós nunca lançaríamos música que não representasse Michael como um artista", diz Branca. "Nós não faríamos isso com ele, conosco ou com os fãs".
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

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